O relatório “Media Matters” apresentado na postagem anterior reune dados sobre as impressões dos professores que lecionam nos cursos de media studies. Quase 80% deles dizem estar satisfeitos por terem escolhido esse assunto para ensinar, apesar de não terem o mesmo reconhecimento profissional de seus colegas que lecionam as matérias clássicas, tais como matemática e inglês.
A pesquisa investigou quais são os assuntos que eles mais gostam de ensinar, dentro das possibilidades desenhadas pelos referenciais curriculares e os resultados foram esses:
– 37% preferem ensinar estudo de filmes clássicos
– 32% gostam de ensinar mídias alternativas
– 27% preferem ensinar cultura pop
Os assuntos que eles menos gostam são:
– o modo como as corporações de mídia funcionam(45%)
– uso de novas tecnologias (22%)
Os autores avaliam que a recusa em ensinar instituições de mídia se deva ao fato de esse ser um assunto que requer muito conhecimento estrutural, informação “de dentro” e não tem como ser ensinado através de materiais pedagógicos largametne disponíveis, já que as instituições de mídia existem, mas não há como tocá-las, comos e faz com um filme ou um pôster, por exemplo. Já o uso de novas mídias requer dedicação e tempo hábil para acompanhar mudanças tão itensas e constantes, algo difícil de ser realizado para quem tem o dia cheio com aulas.
Os professores também listaram prioridades que deveriam ser tratadas pelos gestores:
– necessidade de prover recursos tecnológicos apropriados, principalmente para o trabalho de produção;
– encontrar um meio de manter os professores atualizados sobre as mais recentes mudanças tecnológicas;
– criar referenciais mais precisos para avaliar as diversas facetas da aprendizagem sobre mídia como, por exemplo, habilidades técnicas, resultados dos trabalhos de produção, auto-avaliação;
Para um leitor brasileiro, são questões próprias de quem já é experiente nesse campo do conhecimento, uma situação bem diferente da dos nossos professores do Ensino Médio. Entretanto, o panorama apresentado no relatório ajudar a construir alguns discernimentos importantes para a formação de professores no Brasil:
– Os programas de estudos deveriam se preocupar em tratar os textos midiáticos como artefatos culturais, fruto de disputas simbólicas. Assim, clarificariam discussões sobre a legitimidade de se estudar o Cinema Novo ao invés de tratar criticamente do funk. Do ponto de vista da mídia-educação, as mensagens veiculam identidades em disputa no cenário midiático e é o conhecimento dessas disputas que desenvolve a percepção crític. Caso contrário, nossos professores podem repetir o comportamento inglês de preferir os cânones da cultura ao invés de dialogar com o repertório real dos alunos;
– Investir em tecnologia de ponta é fazer das escolas portais e não barreiras para a cultura digital. Equipamentos eletrônicos ficam obsoletos rapidamente, quebram com o uso, nem sempre funcionam, mas o investimento maciço em equipamentos, assim como no suporte técnico para o professor são dosi quesitos básicos para se ter sucesso em qualquer proposta de mídia-educação;
– Se já dá trabalho ensinar conteúdos há muito estabelecidos no currículo com qualidade, imagine ensinar um conhecimento emergente. Com a carga horária que os professores brasileiros normalmente tem, nunca vão conseguir trabalhar na proposta da mídia-educação. Entretanto, estamos falando de um meta-conhecimento fundamental para se prosperar culturalmente (e consequente economicamente) no século XXI. A mídia-educação só poderá florescer num contexto em que os professores puderem dedicar uma parte da sua carga horária semanal ao estudo – sendo pagos para isso, obviamente.
O futuro a Deus pertence e pode ser melhor que o presente. Tomara.